
•
Luar do Sertão é uma toada brasileira de grande popularidade, considerada o
“Hino Nacional Sertanejo”.
É uma das músicas brasileiras mais gravadas de todos os tempos, e conta atualmente com mais de 150 interpretações diferentes.
Melodia emotiva, com versos simples e ingênuos de Catulo da Paixão Cearense, gravada pela primeira vez em 1914, exalta a vida no sertão e o luar.
Esta é gravação original, na voz do lendário Eduardo das Neves, cantor, compositor e palhaço de circo:
https://www.youtube.com/watch?v=pJpzOoab9vI
•
” Luar do Sertão” na Enciclopédia Itaú Cultural: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/obra6120/luar-do-sertao
•
• POLÊMICA : Quem compôs a melodia de “Luar do Sertão”?
Catulo da Paixão Cearense jurava, de pés juntos, que, música e letra eram de sua autoria.
O violonista João Pernambuco reclamava a autoria da melodia.
Historiadores e personalidades ligadas à música afirmavam que o tema tinha origem no coco – ritmo e dança da região Nordeste do Brasil, com influências dos batuques africanos e dos bailados indígenas – É do Maitá, ou Meu Engenho é do Humaitá, de autor anônimo.
Catulo, que se autodenominava “um sertanejo sem sertão”, pois sabia descreve-lo muito bem, apesar de não conhecê-lo, declarava que o Luar do Sertão era uma melodia nortista, “pertencente ao domínio folclórico”.
A polêmica deu muito pano pra manga; foi parar na justiça, e até Villa-Lobos meteu a batuta no assunto.
Leandro Carvalho, estudioso da obra de João Pernambuco e organizador do CDs
Leandro Carvalho “Descobrindo João Pernambuco” (Eldorado, 1999)
Álbum completo: https://www.youtube.com/watch?v=TK9X-fXgRgk
Leandro Carvalho “João Pernambuco: O poeta do violão” (Eldorado, 1997)
Álbum completo: https://www.youtube.com/watch?v=vzw5dGuHUQc
declarou: “Por onde João andava, Catulo estava atrás, anotando tudo; foi o que aconteceu com Luar do Sertão: Catulo ouviu, mudou a letra e disse que era sua”.
•
Aqui está o tal do coco É do Maitá, ou Meu Engenho é do Humaitá:
https://www.youtube.com/watch?v=ygUl-oSn_as
Acho que a única coisa semelhante entre melodia deLuar do Sertão e a melodia desse coco é o ritmo da segunda parte, composto de quatro semínimas a cada tempo, mas, isso é próprio de qualquer coqueiro que dá coco.
A melodia do refrão (não há, ó gente, ó não…) não tem nada parecido com nenhuma parte de É do Maitá.
Pra mim a melodia é de João de Pernambuco.
Catulo não fazia muita questão de revelar o nome de seus parceiros.
- Artigo primoroso, sobre Luar do Sertão por Leonardo Davino, ensaísta, mestre em Literatura Brasileira e pesquisador de canção popular:
O sujeito de “Luar do sertão”, de Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco, desenha a beleza da paisagem de seu lugar, de sua gente e de sua origem. Sujeito simples, sem grandes ambições materiais, ele canta as coisas mais simples da vida e, por isso, detentoras da felicidade.
Canção do exílio, “Luar do sertão” é o lamento (“Oh que saudade”) da distância: do sujeito separado de seu recanto rural, provavelmente por ter sido preciso ir buscar melhores condições financeiras, para o sustento da vida, nos centros econômicos: na cidade.
Fácil de cantar, com versos que contam a trajetória de muitos brasileiros, a canção virou hino deste tipo de migrante. Há uma melancolia, toda humana e sentidamente singela, no canto do sujeito que, em algum lugar da “cidade grande”, perdido na noite fria, evoca o deslumbre da lua do sertão, para figurativizar a gênese de sua existência: a lua é canção – canta o sujeito, que retribui com outra canção.
Aqui, vale trazer um pouco da biografia dos dois para compor a imagem que a canção pede: irmãos, começaram a cantar juntos ainda na infância, na zona rural de Uberlândia (MG), onde trabalhavam na lavoura. A ida para São Paulo, tentar a sorte, foi em 1968, quando conhecem outras duplas caipiras, como Tonico e Tinoco e Milionário e José Rico. O mais é trabalho e história.
“Luar do sertão”, que está no disco ‘Ribeirão encheu’(1995) é uma toada feita para acalentar a saudade: saudade que significa a sensação de estar envelhecendo longe de “seu lugar”. A dicção vocal da dupla tenciona a agonia do sujeito da canção, ainda mais quando lembramos e ligamos a isso a imagem de Pena Branca e Xavantinho, com o sertão na aparência física, cantando na TV, acompanhados da imprescindível viola caipira.
O sujeito, que não se acomoda na cidade, também não define o lugar de onde canta: supomos que seja, exatamente, no entrelugar, no desconforto: é deste lugar que sai o canto: do coração que não encontra pouso fora da terra natal, do sertão, que “está em toda parte”, como Riobaldo, personagem de ‘Grande sertão: veredas’, aponta.
Por outro lado, é na realidade sertaneja que encontramos a grande síntese da épica-dramática brasileira. Como a professora Walnice Nogueira Galvão escreve, no livro ‘As formas do falso’, “o sertão é o núcleo central do país”.
A personagem de Guimarães Rosa ainda aponta: “sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado!”.
O sertão é um estado-de-coisas e é consciência-de-si para o sujeito de “Luar do sertão”: é a solidão; é a saudade, mas é muito mais que isso. O sertão está incorporado ao ser. O sertão guarda uma mística, nada metafísica, que aniquila todos os dispositivos de interpretação dados pelos centros acadêmicos e econômicos “da cidade”. Estar no sertão é estar “no nada que é tudo”.
Com sua paisagem movediça, o sertão ilude: chama e espanta. O indivíduo cai no mar da abstração: caminha rumo ao infinito, sempre apartado de si, mas, por isso, com um único desejo: morrer abraçado à sua terra – gênese e identificação perdida.
•
Extraído do blog 365 Canções , que sem revelar o que o que o artista “quer dizer”, buscando possibilidades de leituras e de diálogos entre canções: http://365cancoes.blogspot.com/search?q=luar+do+sertão
•
Eis algumas gravações de “Luar do Sertão”:
Leonardo; Zezé Di Camargo & Luciano; Bruno E Marrone; Ivete Sangalo;Alexandre Pires; Gian & Giovani; Chitãozinho & Xororó;Pedro & Thiago : https://www.youtube.com/watch?v=f7GVA5MwdCM
Luiz Gonzaga e Milton Nascimento: https://www.youtube.com/watch?v=KhfZnZwBFHM
Tonico & Tinoco: https://www.youtube.com/watch?v=QPgAg-gUZAg
Chitãozinho & Xororó 40 Anos Sinfônico : https://www.youtube.com/watch?v=Sgu6dlevFHo
Maria Bethania – vídeo de Moacir Silveira https://www.youtube.com/watch?v=vsATs32Z0o0
Milton Nascimento: https://www.youtube.com/watch?v=1yjXhnM-JSg
Inezita Barroso e muitos convidados: https://www.youtube.com/watch?v=cFHlrnP2zcQ
Fafá de Belém e Fagner – https://www.youtube.com/watch?v=D2Ee9X-hHBg
Marlene Dietrich – https://www.youtube.com/watch?v=rArD8SoSd8k
Simone: https://www.youtube.com/watch?v=KDbfz6w-njc
Ceumar, Lui Coimbra & Paulo Freire :https://www.youtube.com/watch?v=v8-URZ8DmZc
Roberta Miranda: https://www.youtube.com/watch?v=U78fDRdcuzs
Jair Rodrigues: https://www.youtube.com/watch?v=J_KykDaMI-Q
Stelinha Egg: https://www.youtube.com/watch?v=xI1Grq_Q7r0
Elba Ramalho: https://www.youtube.com/watch?v=GCcHLR6DIXQ
Daniel, Yassir Chediak e Rodrigo Sater: https://www.youtube.com/watch?v=ACFmq5hNr-s
Padre Fábio de Melo: https://www.youtube.com/watch?v=idj4-jmlKvw
Vicente Celestino: https://www.youtube.com/watch?v=Xqg9F1qCHUk
Tuta Guedes e Sergio Reis: https://www.youtube.com/watch?v=dGYWQXV7aQs
Baden Powell : https://www.youtube.com/watch?v=dKFXSDUVwnM
Ray Connif (arranjo) : https://www.youtube.com/watch?v=pMOobiM3j_k
Renato Andrade: https://www.youtube.com/watch?v=ZrGqewMjKsc
John Dalgas Frisch : https://www.youtube.com/watch?v=TLVJ_JfqRbA
Chico Alves: https://www.youtube.com/watch?v=d_lOjPQ46u0
com suporte orquestral de Lírio Panicalli, em gravação Odeon de 5 de outubro de 1943.
Rosina da Rimini (gravação 1941): https://www.youtube.com/watch?v=BdtzCAXm45k
Los Pueblos: https://www.youtube.com/watch?v=1FCKubldHpg
Paraguassu (1936): https://www.youtube.com/watch?v=l1BMhCmm20Y
Singing Babies (gravado em 1935) : https://www.youtube.com/watch?v=AwQHybt2Ta8
•
LUAR DO SERTÃO
João Pernambuco e Catulo da Paixão Cearense
Não há, oh! gente, oh! não
luar como esse do sertão
não há, oh! gente, oh! não
luar como esse do sertão!
Oh! que saudades
do luar da minha terra
lá na serra branquejando
folhas secas pelo chão!
(Refrão)
Este luar
cá da cidade tão escuro
não tem aquela saudade
do luar lá do sertão!
Se a lua nasce
Por detrás da verde mata
Mais parece um sol de prata
Prateando a solidão!
E a gente pega
na viola que ponteia
e a canção é a lua cheia,
a nos nascer no coração!
(Refrão)
Quando vermelha,
no sertão, desponta a lua,
dentro d’alma, onde flutua,
também rubra nasce a dor!
E a lua sobe
e o sangue muda em claridade
e a nossa dor muda em saudade
branca, assim, da mesma cor!
(Refrão)
Ai, que me dera
que eu morresse lá na serra,
abraçado a minha terra
e dormindo de uma vez!
Ser enterrado
numa grota pequenina
onde, à tarde, a Sururina
chora a sua viuvez!
(Refrão)
Diz uma trova,
que o sertão todo conhece,
que se à noite o céu floresce
nos encanta e nos seduz!
É porque rouba
dos sertões as flores belas
com que faz essas estrelas
lá no seu jardim de luz!
(Refrão)
Mas como é lindo
ver, depois, por entre o mato,
deslizar, calmo, o regato,
transparente como um véu!
No leito azul
das suas águas murmurando,
ir, por sua vez, roubando
as estrelas lá do céu!
(Refrão)
A gente fria
desta terra sem poesia
não se importa com essa lua,
nem faz caso do luar!
Enquanto a onça
lá na verde capoeira
leva uma hora inteira
vendo a lua a meditar!
(Refrão)
Coisa mais bela
neste mundo não existe,
do que ouvir um galo triste
no sertão, se faz luar!
Parece até
que a alma da lua é que descansa
escondida na garganta
desse galo a soluçar!
(Refrão)
Se Deus me ouvisse,
com amor e caridade,
me faria esta vontade,
o ideal do coração!
Era que a morte
a descansar me surpreendesse
e eu morresse numa noite
de luar do meu sertão!
•


Edgard Poças